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O sofrimento psíquico da geração que se esconde em capuz e se automutila


 Existir é um processo mental doloroso, principalmente entre os 12 e 27 anos quando o cérebro experimenta grande transições. Logo o cérebro na adolescência vivência uma criança querendo sair ao mesmo tempo em que um adulto quer entrar. Isso é como ligar um aparelho elétrico de 110V numa tomada de 220V: ao ligar um aparelho 110V em uma tomada de 220V, o aparelho receberá o dobro da tensão elétrica que necessita, e como consequência entrará em colapso. E é durante esse terrível estágio da vida que fazemos os mais angustiantes malabares entre reticências, exclamações e interrogações, constituindo assim, a adolescência como a fase mais difícil da existência humana, pois a não compressão dessa acentuada ebulição mental em si mesmos, faz com que muitos jovens optam pelo ponto final, tomando assim uma 'pseudo solução' definitiva para um problema temporário.

O cérebro, este organismo incrível,  precisa ser estudado, compreendido e tratado como se trata todo o resto do corpo. Por isso, precisamos falar com nossos adolescentes sobre o que está acontecendo dentro da sua cabeça e que isso é uma evolução natural de seu cérebro. É a mais longa e dolorosa fase de transformação de sua vida. É um ciclo quase insuportável? Sim, é verdade, mas quando os adultos o compreende e aceita-o como o ciclo mais difícil de se fechar na vida e passam a falar sobre ele com seus filhos adolescentes, incentivando-os a dizerem o que sentem, a não se isolarem na dor, a verbalizarem suas dores de existir e se permitirem à ajuda de  profissionais da saúde mental, ou de grupos de apoio, o afeto da família, dos amigos, de voluntários; o suicídio pode ser evitado.

Por que os adolescentes se matam?

Não existe uma única razão para que alguém opte pela autoextermínio. O suicídio é o resultado de uma rede de fatores biológicos, genéticos, psicológicos e socioculturais e é por isso que não são só os adolescentes optam pelo autoextermínio, entretanto, a incidência é 60% maior na fase de transição do cérebro da adolescência para a vida adulta. Entre os jovens de 14 a 27 anos é a segunda causa de morte, considerado pela Organização Mundial de Saúde, uma epidemia.

Riscos iminentes de suicídio na infância e na adolescência

É claro que num momento ou outro pode acontecer de nos sentirmos ansiosos, impulsivos, instáveis emocionalmente, desesperançados, profundamente triste e depressivos. Todavia, é necessário observar com grande responsabilidade a recorrência desses quadros, a fim de compreendermos que estamos caminhando para um risco iminente de desejarmos a morte como a solução definitiva para os nossos problemas temporários.  A seguir, veremos os riscos iminentes de suicídio e falaremos sobre cada um deles distintamente.

Os fatores que mais corroboram com a decisão do ato extremo são:

  • Ansiedade: é preciso distinguir ansiedade normal de ansiedade patológica. A ansiedade normal é aquela que acontece em momentos de grande excitação positiva ou negativa, mas logo passa. A ansiedade patológica é aquela que persiste por mais de 15 dias e traz consigo, insônia, palpitações, sensação de esmagamento no peito e até mesmo desmaio.
  • Dor física: As dores físicas podem desencadear um grande sofrimento psíquico e a pessoa desejar a morte para que fique livre da dor. Pode acontecer com pessoas diagnósticas com câncer, AIDS ou aquelas que perderam algum membro do corpo num acidente ou sofreram queimaduras. Essas pessoas precisam de muito amparo afetivo para continuarem a lutar pela vida.
  • Dor psíquica: A dor psíquica nos acomete no momento do nascimento quando vivenciamos a primeira a sensação de abandona e nos acompanha por toda a vida. Passaremos a vida inteira na busca de preencher esse vazio inconsciente e para preenchê-lo faremos, tantas vezes, escolhas erradas, dentre elas, a prática de sexo não saudável, o uso de drogas e álcool, a violência, etc. A dor psíquica precisa ter voz e precisa ser ouvida. Por isso é imensamente importante a escuta terapêutica desde à infância até a vida adulta.
  • Bullying: Há em média 9 tipos de bullying: o psicológico, o escrito, o verbal, o moral, o social, o cyberbullying, o material, o sexual, o físico. Todos os dias, a maioria de nós sofre ou pratica um ou mais desses tipos de bullying. Para quem pratica é engraçado, mas para quem sofre, é dor psíquica tamanha que pode levar a pessoa à decisão do ato extremo.
  • LGBTfobia: 50% das pessoas LGBTs já tentaram suicídio. A média de vida de um LGBT é de 37 anos. Só existem dois tipos de pessoas no mundo: as boas e más. Ser um LGBT não faz uma pessoa ser má. Mas discriminar, excluir, maltratar, bater e até mesmo matar alguém por sua condição de gênero, é ser mau, bárbaro, inumano. A única pedagogia que funciona é a do amor, da aceitação, da bondade. Cada ser é único e é múltiplo, e como isso é maravilhoso.
  • Depressão: Todas as pessoas que têm depressão cometem suicídio? Não, mas todas as pessoas que cometem suicídio apresentaram quadros de depressão. São tristeza profunda além de 15 dias, falta de apetite estrema, se cortar, se queimar, chorar sem motivo aparente, se isolar, não se sentir motivado nem mesmo com as coisas que mais gostava de fazer, insônia ou dormir demais.
  • Automutilação: A automutilação é um ensaio para o suicídio. Quando uma pessoa começa a se cortar, se queimar, se bater... está gritando por socorro. A automutilação precisa ter voz. A automutilação é dor psíquica silenciada que precisa vir à tona antes que o ensaio se torne um fato.
  • Abuso sexual: Ser abusado sexualmente na infância é passar o resto da vida debaixo de escombros onde você nem morre e nem vive. Um infortúnio tão grande que pode desencadear sérios quadros de transtornos mentais na adolescência, vários distúrbios emocionais e de comportamentos e coloca a pessoa em risco iminente de suicídio. Segundo a Organização Mundial de Saúde o suicídio entre crianças de 5 aos 12 anos está relacionado à violência, especialmente a sexual.

Como ajudar?

Tenho observado em muitas das pessoas que pedem ajuda, que elas não suportam em si mesmas a ideia de se autoajudarem; elas não têm misericórdia de si mesmas; não têm boa vontade com o seu processo de autocura... E elas não têm culpa de se sentirem assim, pois é como se estivessem no fundo de um poço aguardando por alguém que lhes jogue uma corda, mas quando isso acontece, só o fato de terem que laçar a corda em volta de si e darem o sinal para serem puxadas, é um esforço doloroso demais para elas. Porque quando se está no fundo do poço, a pessoa precisa ser salva de si mesma. Jogar a corda não adiantará. É preciso descer onde ela está e só depois de ouvi-la e compreender suas lágrimas, você poderá se agarrar a ela e levá-la para fora - para longe de onde ela estava - para que ela enfim comece a olhar para si mesma fora do poço e comece a acreditar que há uma existência com um sentido real fora do poço. Na prática isso quer dizer que não adiantará, coisa alguma, você dar conselhos, dar dicas de como sair daquele momento terrível. Só o que adianta, é ouvi-la, é compreendê-la, é abraçá-la, é demonstrar praticando que você tem tempo para ouvi-la. Oriente a buscar ajuda profissional, sugira ir com ela num Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e mantenha o número 188 (CVV) à vista.

 

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