Quando nos debruçamos nos principais períodos relacionadas ao entendimento da loucura, no princípio, observamos o entendimento da loucura como algo místico, em que o indivíduo foi tomado por uma força sobrenatural, que para se curar e devia recorrer a rituais ou a benzimentos por um xamã ou sacerdote da tribo.
Em posteriori, a concepção tomou uma nova cara, apresentando a loucura como a mudança de um equilíbrio natural do ser humano. Isso é o que afirmava Hipócrates (460 a.C.-356 a.C.) e seus seguidores na época greco-romana, onde o desequilíbrio dos quatro humores resultaria em uma patologia. Para isso, o indivíduo deveria realizar caminhadas, massagens corporais, dietas específicas, fumigação de ervas, entre outros recursos naturais.
Não muito distante, no período conhecido como Idade das Trevas (Idade Média), a concepção da loucura era dividida de acordo com o status social. Assim, os indivíduos loucos das classes altas pagavam os padres e a assistência era feita através da reza por parte da Igreja Católica - a qual era a grande influenciadora na época-, contudo, se não fosse dessas classes sociais o destino era o isolamento social, seja em lugares afastados ou vagando em um barco solto sem rumo no mar.
Essa visão teve fim a partir da época do Renascimento - meados do séc. XVI -, onde o conceito de razão dominava o modo de pensar e agir. Com isso, o entendimento de que o louco era uma pessoa desprovida de razão, tornando o entendimento de loucura como a quebra da humanidade da pessoa, por sua vez, o transformando em um animal, pois ele perdeu seu lado racional, o que o caracterizava sendo um ser pensante e racional.
Essa ideia ainda era realçada pela não adaptação do louco com o processo de civilização da época.
Frente a isto, os modelos de cuidado eram baseados na criação de hospitais gerais para um cuidado firmado na vigilância e punição, ambos realizados por meio do uso da força bruta.
Com a chegada da Revolução Industrial, Revolução Francesa e, também, o Iluminismo, um médico chamado Philippe Pinel apresentou um cuidado diferente nos pacientes psiquiátricos, tornando-se pioneiro nessa visão. Ele acredita que a loucura era unicausal, dando foco apenas para um aspecto clínico, e realizou um cuidado mais focado no paciente, através de discussões, escutas, programas e atividades voltadas para os pacientes e seus interesses.
O psiquiatra francês, Philippe Pinel (1745-1826) foi pioneiro em classificar as loucuras quanto sua nosologia e prescrever cuidados específicos para cada doença.
Mais atualmente, a Reforma Psiquiátrica, criada por Franco Basaglia, explora um conceito de assistência diferente dos já abordados, tendo como lugar de cuidado o lado de fora do hospital, voltando-se para a comunidade ou território que o paciente vive. Basaglia, por sua vez, entende a loucura como algo multifatorial, dando diversas causas para a ocorrência dela.
Para concluir, a reforma psiquiátrica tem o papel de utilizar a comunidade em que o paciente está inserido como fator de assistência para sua inclusão e ajuda na assistência prestada a ele, não o deixando isolado do mundo, mas fazendo-o parte ativa da sociedade. Além disso, essa reforma busca a realização e a execução de seus direitos como cidadão do mundo, fazendo disso um dos planos para seu cuidado.
Quando pensamos que o modelo etiológico e de cuidado da loucura foi alterado com o passar do tempo e devido a sociedade, a religião e a economia, encontramos uma série de motivos para essas mudanças.
No entanto, atualmente, dois modelos apresentaram uma grande mudança no entendimento da loucura e na assistência prestada para tal paciente, sendo o modelo de Pinel e o modelo de Basaglia. Sabendo que no primeiro modelo o cuidado era voltado para atividades exercitadas no hospital e a visão da doença era unicausal e, no segundo modelo, o cuidado é territorial e a doença tem como início várias causas (multicausal).
Um dos meios de evitar a perpetuação de erros do passado e aprender com eles, é de suma importância entender como era a assistência a pacientes loucos antes da reforma psiquiátrica. Nesse sentido, recomendamos a leitura do livro O Holocausto Brasileiro, que conta através de relatos e fotos a história do manicômio de Barbacena, interior de Minas Gerais, relatando a crueldade que eram os cuidados aos pacientes. Do livro fizeram um documentário que você pode assistir na íntegra abaixo. NÃO É RECOMENDADO PARA MENORES DE 16 ANOS.
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