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Maconha X Aprendizagem: dá para arriscar? - por Jairo Bouer – Jornal O Estadão



Uma nova pesquisa sobre comportamento jovem, divulgada no final de setembro de 2013, sugere uma relação entre consumo de maconha e um pior desempenho dos alunos na escola.

O projeto Este Jovem Brasileiro, realizado desde 2006 pelo Portal Educacional, do Grupo Positivo, em escolas particulares, tem metodologia simples. Cada aluno responde a uma pesquisa online, no laboratório de informática, em condição de anonimato. Em 2013, as perguntas abordaram sexualidade, drogas, violência, emoções e uso de internet. Foram entrevistados 5.675 estudantes, do 8.º ano do fundamental até o 3.º ano do ensino médio de 67 escolas, em 16 Estados do Brasil.

A maconha já havia sido experimentada por quase 10%. O uso aumenta com a idade. Aos 13, 4% já tinham tido experiência com a droga e aos 17, 16%. Quase a metade dos que experimentaram teve o primeiro contato entre 14 e 15 anos, o que mostra a importância de discutir esse tema na escola ainda no ensino fundamental. Entre os que já tinham consumido maconha, 18% usaram todos os dias ou quase todos os dias no mês anterior à pesquisa. Outro estudo recente sobre o tema, o 2.º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, da Unifesp, feito em 149 municípios brasileiros em 2012, revelou que 4% dos jovens a partir dos 14 anos já tinham experimentado maconha.

Mas os números mais surpreendentes da pesquisa atual são os obtidos quando se cruzam os dados sobre emoções e rendimento na escola com os de uso de maconha. No total, 13% dos alunos entrevistados já haviam sido reprovados na escola. Entre os que já haviam experimentado maconha, esse número chega a 31%, ou seja, quase um em cada três. Outro dado chama a atenção: 48% dos alunos dizem ter dificuldade em manter concentração em sala de aula (talvez mais um reflexo da geração internet, que consegue executar tarefas distintas ao mesmo tempo, mas tem uma tremenda dificuldade em focar em um só estímulo). Entre os que já usaram maconha, essa dificuldade de concentração parece ser ainda maior: 63%. Já 35% dos alunos referem dificuldade para entender as aulas. Entre os que já usaram maconha, 51%.

Quando analisamos algumas emoções, os dados também chamam atenção. No total, 29% dizem se sentir tristes ou desanimados com frequência. Entre os que usaram maconha, o número sobe para 39%. Já 47% disseram se sentir ansiosos sem motivo aparente. No grupo com experiência com maconha, esse índice chega a 54%.

Embora a amostragem não seja representativa de todo o País (apenas escolas particulares participaram) e não tenha havido controle de todas as variáveis, os dados merecem uma avaliação mais cuidadosa, principalmente no momento em que países vizinhos e políticos no mundo todo discutem uma maior flexibilização nos controles de venda e consumo de maconha.

A pesquisa sugere uma possível relação entre consumo de maconha (principalmente no uso mais frequente) e um pior resultado nos estudos e, também, entre o uso da droga e dificuldades emocionais. Pela metodologia utilizada não se pode afirmar que é a maconha que causa queda no rendimento escolar e maior índice de reprovação. Talvez o uso dela seja maior justamente entre os alunos que já apresentavam mais dificuldades emocionais e pior desempenho escolar. Ela poderia estar sendo usada para aliviar, por exemplo, sintomas depressivos e ansiosos.

De qualquer forma, os dados apontam para a importância de se fazer um trabalho cuidadoso e permanente na escola de prevenção e informação sobre uso de drogas. Também mostram a necessidade de maior atenção aos jovens com dificuldades emocionais e de aprendizagem, já que eles podem estar em maior risco de consumo frequente de diversas substâncias (álcool, cigarro e maconha, entre outras).

Jairo Bouer médico psiquiatra formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), e pelo Instituto de Psiquiatria da mesma universidade


MACONHA: Dá para arriscar? (Texto enviado por um leitor)



No Reino Unido (Inglaterra/Grã Bretanha) a esquizofrenia afeta 01 em cada 100 pessoas, uma estatística impressionante. Fatores genéticos e ambientais podem provocar o aparecimento de esquizofrenia e, um destes gatilhos é a maconha.

A ligação entre maconha e esquizofrenia foi observada pela primeira vez no início de 1970; desde então, tem havido uma quantidade considerável de interesse nesta área, levando à mudança de classificação da maconha da classe de drogas C para B em 2009.

Imagens do cérebro e estudos neuro-científicos têm demonstrado que a maconha pode alterar a estrutura do cérebro, particularmente em áreas ricas em receptores de canabinóides (CB1). 

Usuários crônicos de maconha mostram alterações nas células nervosas em áreas do cérebro intimamente associada com a esquizofrenia (identificando alterações geralmente irreversíveis no cérebro). 

Jovens que preenchiam os critérios para dependência de maconha tinham o dobro da taxa de sintomas psicóticos do que aqueles que não eram dependentes de maconha, mostrando uma relação causal entre uso de maconha e aumento das chances de desenvolver quadros psicóticos/esquizofrênicos.

Um dos primeiros e maiores estudos (mais de 15 anos) sobre os efeitos da maconha e desenvolvimento de esquizofrenia foi o estudo sueco que descobriu que entre 45.570 homens que foram recrutados no exército, os usuários mais frequentes de maconha tinham 06 vezes mais risco de ter esquizofrenia do que os não usuários! Aqueles que só usaram maconha uma vez tiveram um risco 2,4 vezes maior que os não usuários. Reavaliação mais recentemente (2012) encontrou um risco três vezes maior para a esquizofrenia em pessoas usando maconha com mais frequência. Estes estudos reforçaram os resultados da associação entre o uso de Maconha e transtornos psicóticos.

Estudos na Nova Zelândia, examinando o estado de saúde mental de 1.037 indivíduos, concluíram que o risco específico para desenvolver esquizofrenia era para uso de maconha, e não de outros fármacos. Os sintomas de psicose anteriores ao uso de maconha foram controlados demonstrando que o uso da maconha não é secundário a sintomas pré-existentes e que usuários de maconha são mais propensos a apresentar sintomas psicóticos do que os não usuários. Isto reforça a relação entre o aumento dos quadros psicóticos/esquizofrênicos e uso de maconha; que parece ser um fator de risco à psicose.

Dá para arriscar?

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