Pular para o conteúdo principal

Elegia ao filho morto - por Clara Dawn

Clara Dawn
Fonte: O Pensador Frases


Em memória de Arthur Miranda -1993 * 2013 (A M)

...todos os dias às oito horas, eu o acordava para lhe dar o remédio e ele me estendia a mão pedindo bênção. Eu beijava a sua mão e ele sorria, depois eu me deitava ao seu lado e ele acariciava a minha cabeça em silêncio até pegar no sono outra vez. O ritual de ir ao seu quarto às oito é o mesmo, mas o silêncio agora possuí outras matizes... Clara Dawn


                                                                                                                        ***

É de troça o sorriso que ainda tens na face?
Terá sido a transposição de teu ultimo reflexo?
Não alcanço no silêncio desse riso - o pensamento - o que tiveste no instante em que vozes imaginárias ou só por ti audíveis, 
atinaram-se a mostrar-te uma paz em forma de branco lençol...
Não concebo que o teu sorriso, vedado por um nó na garganta, tenha se transformado em epitáfio.

                                                                               ***


Sinto-me muito estranha.
É como se eu não pertencesse ao orbe [navego num limbo].
O concreto tornou-se impalpável e as obrigações de ser mais do que a mãe que chora a morte de seu filho, conduzem-me automaticamente.
Vou sem voo - sem concluir quaisquer pensamentos dialéticos - náuseas são inevitáveis..[vontade de existir, tão somente, nas coisas que inexistem...] Clara Dawn

                                                                            ***



Tive a impressão de ter ouvido um risinho cínico depois de contar para Ele os meus planos de ver o meu filho recebendo o Prêmio Pritzker.(17 de gosto de 2013 - qualquer coisa que eu venha escrever depois dessa data, terá traços de cinismo e de dor). Clara Dawn

                                                                           ***

Passou tanto tempo...não passou tempo algum.
É nesse tempo que passa correndo sem sair do espaço
que tento ajuntar letras ambíguas 
sobre toda essa benevolência expressa [como sempre] em seu olhar;
sobre suas asas de anjo que [no último abraço] ergueram-me do chão... 
Espero que um dia você possa perdoar-me por não conseguir entender
Sua ânsia de pássaro em livrar-se [ cedo demais] da gaiola da vida.
Clara Dawn

                                                                          ***

Ao abrir as cortinas deste dia "nunca mais" é a melodia que girola o vinil:
... na tela fria do computador - a maciez de seus cabelos - nunca mais.
[Deus - nunca mais!? ]
E a melodia toca-me... toca... toca Insistentemente...
[toca-me... e[n]toca... ]
Clara Dawn

                                                                           ***

Descobri que o silêncio é palpável:
tem cheiro, textura e gosto.
Descobri-o nessas coisas que pertenceram a você 
e que agora você pertence à elas.
Descobri que esse silêncio é visível e belo...
[como uma borboleta sem asas]
Clara Dawn

Comentários

Mais vistos

O uso de maconha na adolescência e sua correlação com a esquizofrenia

E eu que nunca fumei maconha, me vejo inserida nesse contexto social e impulsionad a a expor a experiência acerca da esquizofrenia vivenciada pelo meu filho, Arthur Miranda. Ele começou a fumar maconha aos 14 anos e usou-a de modo exacerbado durante cinco anos. Depois de todo esse tempo nas grimpas alucinógenas da maconha, o meu filho surtou. Por sete meses tentamos tirá-lo do surto psicótico: onde ele ouvia, 24 horas por dia, vozes e também via pessoas sem cabeça transitando pela casa... Por fim, ele se matou. Meu filho, poeta, estudante de arquitetura, aspirante a arquiteto da Aeronáutica...(jamais revelou quaisquer sintomas de anomalias mentais) Meu filho lindo, amado e tão festivo, se matou. Se eu sabia que ele usava maconha? Sim, eu sabia e vivia feliz pensando: 'que bom que ele SÓ usa maconha'. Eu não sabia, ele não sabia... ninguém podia imaginar que ele tinha predisposição genética para os transtornos mentais; que ele tinha predisposição genética para dependência químic

Maconha pode desencadear a esquizofrenia quando usada na adolescência

Maconha todo mundo sabe o que é. Mas se você não é um psiquiatra ou um esquizofrênico, vale explicar do que se trata a esqu izofrenia.  Trata-se de um distúrbio mental que leva a sintomas como alucinações, delírios, alterações de pensamento e perda da realidade. De certa forma, é como um baque do efeito da maconha, só que incurável. É como entrar numa balada eletrônica (com luzes de neon, gritos, risadas, visões de acéfalos e tals)e não sair nunca mais dali. Os caras que vivem pra estudar essas coisas, afirmam que fumar maconha, uma vez por semana, é o suficiente para desencadear os surtos psicóticos que levam a esquizofrenia em adolescentes que têm essa tal de predisposição genética pra coisa. (Fica ligado, predisposição genética não aparece em exame de sangue). Escuta essa, irmão: pesquisadores na Holanda, reuniram 95 usuários da maconha, dos quais 48 eram pacientes com eram adolescentes entre 14 e 24 anos. Durante seis dias, a missão dos voluntários era

O Uso de Maconha na Adolescência e Sua Relação com a Esquizofrenia: Riscos, Evidências e Estratégias de Prevenção

O uso de cannabis durante o período crítico de neurodesenvolvimento da adolescência pode levar a alterações estruturais, funcionais e histológicas cerebrais que podem sustentar alguns dos danos comportamentais e psicológicos de longo prazo associados a ele. O sistema endocanabinoide desempenha um papel regulador e homeostático fundamental, que passa por mudanças de desenvolvimento durante a adolescência, tornando-o potencialmente mais suscetível aos efeitos da exposição à cannabis durante a adolescência. Aqui, sintetizamos evidências de estudos humanos de usuários adolescentes de cannabis mostrando alterações no desempenho cognitivo, bem como na estrutura e função do cérebro com evidências pré-clínicas relevantes para resumir o estado atual do conhecimento. Este artigo explora a relação entre o uso de maconha na adolescência e o desenvolvimento de esquizofrenia, destacando evidências científicas recentes e sugerindo estratégias para prevenção e intervenção. Evidências Científicas Sob